BY ADMIN – 16/02/2012
Disposta a recuperar o território que
o Reino Unido controla por meios militares, Christina Kirchner lança ofensiva
diplomática e denuncia nuclearização do Atlântico Sul
Por Mauricio Santoro, em
seu blog
Em abril completam-se 30 anos da
guerra das Malvinas e o aniversário é marcado por uma série de tensões entre Argentina e
Reino Unido, sobretudo em termos da nova importância econômica das
ilhas, e de como as disputas sobre esse território ajudam governos em
dificuldades domésticas.
As Malvinas eram desabitadas quando
foram descobertas pelo holandeses e nas lutas entre potências coloniais,
acabaram com a Espanha, e depois com a Argentina. Em 1833 foram invadidas pelo
império britânico, como parte de uma rede de apoio para rotas de navegação no
Atlântico Sul. Os diversos governos argentinos nunca abandonaram a demanda pela
soberania das Malvinas – no que, aliás, sempre contaram com as autoridades
brasileiras, da Regência à presidente Dilma Rousseff. Mas era uma luta por nacionalismo e integridade do território,
fortalecida a partir das décadas de 1930-1940, quando a aliança com britânicos
começou a ser questionada com vigor na Argentina. À época da guerra, em 1982, a
principal atividade das ilhas era a criação de carneiros.
Argentina e Reino Unido permaneceram
de relações diplomáticas cortadas durante a década de 1980 (o famoso gol de mão
de Maradona contra a seleção inglesa na Copa de 1986 se deu nesse contexto), e
elas só foram retomadas sob a presidência de Carlos Menem. Sua política para as
Malvinas foi o chamado “guarda-chuva da
soberania”, pela qual esse tema não era discutido, mas se buscava cooperação
em outros assuntos, como a permissão para veteranos de guerra e seus parentes
poderem visitar as ilhas, chorar seus mortos nos campos de batalha e nos
cemitérios militares. Situação belamente mostrada no filme argentino Iluminados
pelo Fogo (abaixo). O chanceler de Menem, Guido de Tella, enviava
anualmente presentes de Natal para os poucos milhares de habitantes das ilhas,
conhecidos como kelpers, que apreciaram seu gesto.
A ascensão dos Kirchner, na década de
2000, significou também o retorno de um intenso nacionalismo à vida política
argentina, que encontrou nova expressão em conflitos por território e por
exploração de recursos naturais. Isso significou o recrudescimento das disputas
com relação às Malvinas, mas também explica muito dos choques com o Uruguai
pela construção de fábricas de celulose à beira do rio que divide os dois
países. A descoberta de reservas de petróleo e gás nas ilhas e a alta no preço
dos hidrocarbonetos aguçaram ainda mais os embates com os britânicos, com frisei em artigo que escrevi no aniversário de 25 anos da
guerra. Conta também a importância das Malvinas para a exploração da Antártida,
tema que cresce em relevância.
Os britânicos
reagiram com sua arma de mídia: enviaram o príncipe William, segundo na
sucessão do trono, para passar algumas semanas nas ilhas (foto acima) e levar
junto a atenção da imprensa. Algo parecido havia sido feito com seu irmão
caçula no Afeganistão. O Reino Unido também despachou um navio de guerra e
talvez tenha feito o mesmo com um submarino armado com mísseis nucleares. São
gestos simbólicos, que tentam demonstrar uma capacidade de poder global que
dificilmente a combalida economia britância teria como sustentar, em particular
depois dos enormes gastos da intervenção na Líbia.
A estratégia
argentina tem sido a de criar obstáculos para os britânicos na ONU, denunciando
a permanência de sua posse das Malvinas como uma situação colonial, e
criticando o que chamam de militarização dos recursos naturais do Atlântico
Sul. O Reino Unido afirma que não se pode abandonar o direito de autodeterminação
dos kelpers e o primeiro-ministro David Cameron chegou a afirmar que
colonialistas são os argentinos. Poderia ser pensada algum tipo de solução como
a de Hong Kong, com a manutenção de grande autonomia para as ilhas, cidadania
dupla aos kelpers ou saídas semelhantes, mas no momento não há disposição para
diálogos.
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